É o que afirmam pesquisadores de iniciativa que faz parte do programa Centros de Ciência para o Desenvolvimento

O alto valor nutricional e o teor reduzido de gordura fazem do pescado um alimento estratégico para combater dois grandes problemas de saúde pública, sendo eles a má nutrição e a obesidade. No entanto, no Brasil, a produção e o consumo de peixes, crustáceos, moluscos e demais víveres de origem aquática ainda são pequenos. Além disso, segundo especialistas, estão bem aquém do potencial do país.
Pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), do Instituto de Pesca – vinculado à Agência Paulista de Tecnologias do Agronegócio (APTA) –, além da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo e da Universidade de Mogi das Cruzes (UMC). Pretendem contribuir para a transformação desse panorama nos próximos anos por meio de um projeto de pesquisa aplicada que será desenvolvido em parceria com empresas brasileiras, norte-americanas e europeias do setor de pescado, além de órgãos governamentais. A iniciativa é apoiada pela FAPESP no âmbito do programa Centros de Ciência para o Desenvolvimento (CCDs).
Investimento do projeto
O investimento total previsto para o período, somando todas as contrapartidas, infraestrutura e salários, é de aproximadamente R$ 23,8 milhões. A expectativa do grupo é que os resultados se traduzam em benefícios tanto para a saúde da população como para a economia. Hoje o país é o 16º produtor de pescado (via criação) do mundo e o terceiro maior do Ocidente. No entanto, cerca de 30% dos produtos de origem aquática consumidos pelos brasileiros ainda são importados.
“O Brasil é um país de agronegócio e pode se tornar tão grande na produção de pescado como é hoje em relação a soja, milho, algodão, café, laranja, carne de frango ou de boi. Temos condições de crescer e atender tanto o mercado interno como o externo. Estima-se que a necessidade de alimentos no mundo possa dobrar até 2050 e nosso país pode se tornar uma potência na aquicultura”, conta Daniel Lemos, professor do Instituto Oceanográfico (IO-USP) e coordenador do projeto.

Primeiros passos
Na avaliação do pesquisador, para fomentar o consumo de pescado entre os brasileiros será preciso atuar em pelo menos três vertentes: reduzir o custo dos produtos, facilitar o acesso e modificar o hábito alimentar, ressaltando as vantagens nutricionais que os alimentos de origem aquática apresentam em relação às carnes vermelhas e, principalmente, às fast-foods.
Um dos primeiros passos nesse sentido será estudar o perfil de consumo da população no Estado de São Paulo. Após identificar as espécies de pescado mais consumidas, os pesquisadores pretendem analisar amostras representativas para verificar o perfil de nutrientes. Com base nessas informações, buscarão entender como as práticas de criação afetam o conteúdo nutricional dessas espécies e testar estratégias de fortificação.
“Sabemos que peixes de água fria como o salmão são, de modo geral, mais ricos em ácidos graxos de cadeia longa [ômega-3]. Mas essa é uma característica que podemos manipular durante o processo de criação, acrescentando determinados compostos naturais à ração dada aos animais, por exemplo. Também pretendemos aplicar técnicas de marcadores genéticos para selecionar características que tornem o pescado ainda mais nutritivo”, explica Lemos.
Para baratear a produção, uma das estratégias propostas é estimular o aproveitamento de resíduos que hoje são desperdiçados ou usados em produtos de baixo valor agregado, como a farinha de peixe para alimentação animal.
“Um dos alimentos de origem aquática mais consumidos no país hoje, principalmente pela população de renda mais alta, é o filé de tilápia, que representa cerca de 30% do peixe. O restante do corpo do animal pode ser tão nutritivo quanto o filé e ser usado na fabricação de almôndegas, hambúrgueres e defumados, por exemplo. Isso pode fazer o custo total da produção diminuir”, explica Lemos.
Disseminação do conhecimento sobre pescado
Todas as informações geradas durante o desenvolvimento do projeto serão reunidas em uma plataforma digital de acesso aberto. O grupo conta com um núcleo de comunicação, que será responsável por produzir newsletters e disseminar informações baseadas em ciência nas redes sociais e websites. Os resultados do projeto também serão expostos no Museu da Pesca, vinculado ao Instituto da Pesca, em Santos.
“Hoje o brasileiro come relativamente pouco pescado e acreditamos que o aumento no consumo pode vir associado à melhoria da saúde. O Estado de São Paulo já possui ativos de pesquisa capazes de contribuir para a solução desse problema e o edital da FAPESP representa uma oportunidade de catalisar esforços dos diversos setores interessados”, diz Lemos. “A história do frango – que antes tinha custo elevado e com investimento tornou-se a principal proteína consumida no país – nos mostra que as carnes de qualidade despertam interesse no mercado brasileiro, desde que sejam acessíveis em termos de custo”, complementa.
O Programa Ciência para o Desenvolvimento prevê um modelo de financiamento tripartite. A FAPESP fará um aporte de R$ 3,7 milhões e um valor econômico e financeiro equivalente deverá ser investido pelas empresas parceiras (cerca de R$ 5 milhões). A contrapartida das instituições acadêmicas será na forma de infraestrutura física e de salários para os pesquisadores e técnicos envolvidos no projeto.
Fonte Canal Rural
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