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Muladeiros

Toda atividade econômica tem, em paralelo, um conjunto de outras que lhe dão suporte e/ou que dela dependem. Não foi diferente com o transporte de cargas por tropas de muares, que predominou no Brasil até bem adiantado o Século XIX. Para dizer a verdade, em algumas regiões foi importante mesmo no Século XX.

Os Muladeiros são pessoas que criam e que curtem andar ou cavalgar montados em muares, homens e mulheres que preservam a tradição das montarias em cada canto do Brasil.

Mulas (sobre)carregadas eram conduzidas por tropeiros; mas de onde vinham as mulas? O muladeiro, que era, nem mais e nem menos, o comerciante de mulas. Depois de adquirir animais em feiras, viajava longas distâncias, levando-os até seus potenciais compradores. Em Histórias e Tradições da Província de Minas Gerais, Bernardo Guimarães assim descreve Eduardo, uma de suas personagens: “Era muladeiro; ia todos os anos à feira de Sorocaba ou Curitiba, a comprar bestas, que vendia pelas províncias de S. Paulo, Minas e Goiás.”

A história dos Muladeiros, no Brasil, começou ainda no século passado, com o Tratado de Tordesilhas. Momento em que os espanhóis usavam os Muares para o transporte de mercadorias, para abrir estradas, formar colônias. “Hoje, grandes cidades, como Sorocaba (SP), Avaré (SP), Castro, Ponta Grossa, Guarapuava, Palmas, do Estado do Paraná, além do Estado de Minas Gerais, que hoje é o berço da raça Pêga, possuem muares de qualidade e docilidade. Outros estados têm se destacado nessa essência equestre também”, explica Jorge Oliveira da Silva, vice-presidente da Federação do Tropeirismo no Estado do Paraná e Presidente da ADETURS EcoAventuras Histórias e Sabores – região de Campo Mourão (PR).

Encontro de Muladeiros

E quem está na agenda dos Muladeiros no Estado do Paraná é o município de Campo Mourão, que está programando o 3º Encontro de Muladeiros, previsto para o final deste mês. A ação tem como objetivo regionalizar a atividade, em formato de turnê Muares.

De acordo com Jorge, o encontro tem reconhecimento do público, principalmente fora do estado. “É um encontro exclusivo com muares e seus reprodutores, não sendo admitindo a participação de outra espécie de animal. Os encontros, aqui no Estado do Paraná, ainda engatinham, ou seja, a adesão tem aumentado”.

Muladeiros exerciam uma atividade lucrativa (ao menos nos tempos áureos do tropeirismo), mas que tinha suas inconveniências. Fala ainda Bernardo Guimarães, na obra já citada:

“A vida do muladeiro […] é rude e trabalhosa; exige uma contínua vigilância, uma atividade incessante. O muladeiro quase não larga os arrieiros senão para deitar-se e repousar algumas horas. Tanger manadas [sic] de milhares de mulas bravias através de imensos e inóspitos sertões por matas, cerradões e campinas abertas, rodeá-las, repontá-las e contá-las todos os dias de manhã e de tarde, além de outras muitas fadigas e cuidados inerentes a esse gênero de vida, é tarefa para acabrunhar as mais ativas e robustas organizações, e pouco ou nenhum tempo pode deixar para pensar em amores.”

De acordo com a Associação de Muladeiros do Oeste Goiano, antes da chegada dos caminhões e da ferrovia, por volta dos anos de 1935 e 1940, o Estado de Goiás estava isolado do restante do País. Nesse período, a atividade predominante era a agricultura voltada para a subsistência, a cultura do gado e de muares. O contato com a região sudeste era dificultado pela falta de rios navegáveis ou estra­das. Sendo assim, a alternativa ao transporte era por meio de carros de bois e muares.

Ainda conforme a Amog, os carros de bois transportavam cargas menores e percorriam distâncias mais próximas. Já os muares, con­duzidos pelos tropeiros, percorriam distâncias mais longas e carregavam cargas mais pesadas como ouro e o gado. Tropeiros eram aqueles que trabalhavam como comissários, eles andavam sempre armados e permaneciam longos períodos nas estradas em função do seu trabalho. Já os muladeiros eram os proprietários de tropas e, de um modo geral, aqueles que se utilizavam dos muares como meio de transporte.

A implantação de ferrovias conduziu à gradual extinção do transporte mediante tropas de muares. Em resultado, não foram poucas as profissões que desapareceram, e, dentre elas, a de tropeiro e a de muladeiro. Toda mudança, por positiva que seja, traz consequências, nem sempre previsíveis e de fácil manejo.

O maior encontro de muladeiros no Brasil

O maior encontro de muladei­ros do mundo acontece em Goiás, mais precisamente no município de Iporá, que fica a 226 quilômetros de Goiânia. O evento que começa hoje reúne os principais criadores de burros, jumentos e mulas do pla­neta. Mais de 2.500 animais estarão reunidos em um desfile de exposi­ção. A atividade supera até a tradi­cional festa americana Richemon Mule Days, nos Estados Unidos.

Tem como um dos objetivos resgatar as tradições caipiras. “Ser muladeiro é ter honra da sua origem e tradição, paixão e respeito pelos animais, e sobretudo ter fé”, esclarece o presidente da AMOG, Corival de Sousa Vieira.

“O Encontro Nacional de Muladeiros surgiu através da Comitiva de Amigos do Divino Pai Eterno de Iporá, que todos os anos faz a viagem à Trindade, na festa do Divino. A Amog surgiu a partir desse grupo, que começou a fazer o convite a outras comitivas para realizar um en­contro, que começou pequeno e to­mou as proporções atuais”, recorda o presidente da associação.

Fonte: Diário da Manhã

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